sexta-feira, 10 de junho de 2011

Elegância


Toulouse Lautrec


Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma, nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam mais do que falam.
E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas.
Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores e é sempre elegante.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante, você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber que você teve que se arrebentar para o fazer...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do Gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
É elegante a gentileza; atitudes gentis falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém... É muito elegante...
Dar o lugar para alguém sentar... É muito elegante ...
Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Olhar nos olhos, ao conversar é essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".
Elegante é ser correto, íntregro, humilde e honesto em todos os momentos de sua vida.
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura."

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sabedoria de Avó

por Renato Lobo, quinta, 5 de maio de 2011 às 18:45

Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de numa tarde de domingo sentar-me num banco de varanda e dizer à minha neta:
- Querida, vem cá. Sente-se aqui do meu lado. Tenho umas coisas pra te contar. O nome disso que eu vou fazer não é conselho, isso se chama colaboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões.
Agora, com 82 anos, ossos frágeis, pele mole e cabelos brancos, tudo que me resta de saudável e forte é minha alma.
Por isso, vou colocar as coisas mais ou menos assim:

É preciso coragem para ser feliz. Portanto, seja valente.
Siga sempre seu coração.
Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
Satisfaça seu desejo mais profundo. Esse é seu direito e sua obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas a escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande é só sua e vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália.
Cuide bem dos seus dentes. Experimente, mude, corte os cabelos.
Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro. Não corra o risco de envelhecer dizendo: Ah, se eu tivesse feito... Vai que o carteiro ganha na loteria!. Tudo é possível, e o futuro, imprevisível.
Tenha uma vida rica de vida! Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação: ela é um bem inestimável.
Porque, sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar faça-o por amor. Não por segurança ou status. Agora, se preferir não se casar, saiba que o casamento é muito bom, mas podendo evitar, melhor.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente. Mas não encontre alguém muito diferente. Fica inviável.
Para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto for paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação.
Leia, pinte, desenhe, escreva. E ,por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, por mim.
Compreenda seus pais.
Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão. Mas tome cuidado com a opinião deles. Sempre que alguém quer o melhor para o outro, corre o risco de não deixar o outro ser realmente outro.
Não cultive mágoas. Essa é a maior besteira. Se há uma coisa que aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.

Era só isso, querida. Agora é a sua vez.
Por favor, encha mais uma vez a minha xícara de café e me conte: como vai você?


(Em homenagem a Elisa Noronha Lopes que, caso fosse avó, diria exatamente isso e assim.)

Disponível em:
http://www.facebook.com/friends/edit/#!/notes/renato-lobo/sabedoria-de-av%C3%B3/121870961225124

Mário Quintana




Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito

Mário Quintana

domingo, 10 de abril de 2011

"Solidão não é a falta de gente para conversar,

namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência
de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe,
às vezes para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino
nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância!

Solidão é muito mais do que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão pela nossa alma.", Chico Buarque

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Tempo



"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Desta forma, eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais."



Mário Quintana, nascido em Alegrete (RS), no dia 30 de julho de 1906. (Leonino)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A vida como ela é...

25/01/2011 - 20h22
RS é condenado a indenizar filho de testemunha
Porto Alegre - O Estado do Rio Grande do Sul terá de indenizar o filho de uma mulher que se suicidou quando estava sob os cuidados do Programa de Proteção, Auxílio e Assistência de Testemunhas (Protege) na condição de testemunha.

A decisão tomada pela 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça e tornada pública hoje manteve sentença de primeiro grau, condenando o poder público ao pagamento mensal de um terço do salário mínimo à criança até ela completar 24 anos, além de indenização de 150 salários mínimos por danos morais.

O caso que deu origem ao processo ocorreu em 2000. Depois de denunciar uma quadrilha de prostituição infantil e tráfico de drogas que atuava em Lagoa Vermelha, a mulher passou a sofrer ameaças, afastou-se da cidade, da família e do filho, então com seis meses, e ingressou no Protege. Em abril de 2002, quanto estava com 19 anos, ela cometeu o suicídio.

O relator do recurso, desembargador Artur Arnildo Ludwig, entendeu que o Estado deveria ter zelado pela integridade física e moral da testemunha. Também considerou que "o ato de suicídio não é evento inevitável ou imprevisível porquanto a testemunha já apresentava ideações suicidas e estava sob vigilância do Estado".

O magistrado lembrou ainda que a mulher permaneceu durante nove meses sem o atendimento psiquiátrico indicado. E, citando a base legal, concluiu que a administração pública tem a obrigação de tomar todas as medidas necessárias a fim de assegurar a proteção de quem estiver sob sua guarda e de indenizar o dano causado por seus agentes, mesmo que não haja comprovação de comportamento culposo.

O voto foi seguido pelo desembargador Antônio Corrêa Palmeiro da Fontoura, mas a decisão não foi unânime. O desembargador Ney Wiedemann Neto divergiu, concordando com a manifestação da procuradora de Justiça Eliana Moreschi de que o suicídio é ato voluntário, sem participação de qualquer agente público, bem como de que não foi constatada ação ou omissão por parte do Estado.

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia/2011/01/25/rs-e-condenado-a-indenizar-filho-de-testemunha.jhtm

domingo, 9 de janeiro de 2011

Frases de Niemeyer

Quando faço palestras para estudantes,digo que a arquitetura não é importante,o importante é a vida.

Desejo ver um mundo melhor, mais fraternal, em que as pessoas não queiram descobrir os defeitos das outras, mas, sim, que tenham prazer de ajudar o outro.

É tolice dizer que as coisas são imutáveis. Tudo pode ser mudado. Só aquilo no qual acredito e certas convicções permanecem as mesmas.

Trabalhei muito, fiz meu trabalho na prancheta, como um homem comum.

Solidariedade justifica o curto passeio da vida.

Sou pessimista. Não como Schopenhauer. Eu me identifico com a linha do Nietzsche, do Sartre. A vida não tem perspectiva. O importante é a gente estar dentro da realidade, saber que tudo é um minuto e não vale a pena estar brigando. Sempre digo que todos têm um lado bom. Isso ajuda a viver. A minha preocupação é ajudar as pessoas, ser útil, reconhecer que a vida é um espaço curto e que estamos no mesmo barco. .

Sempre tive a idéia de que o dinheiro não vale nada. Já disse que teria vergonha de ser um homem rico. Considero o dinheiro uma coisa sórdida.

Ser comunista é ser realista. A própria história da vida nasce e morre, são os minutos que ela dá. Mas é uma razão para a gente andar de mãos dadas, trabalhar.

Ser comunista, hoje, é ser um indivíduo simples, justo e solidário. O mundo que está aí me preocupa. Quando as torres gêmeas desabaram em Nova York, no 11 de setembro, eu tomava café em um bar do Rio. Vendo as imagens na TV, pensei em como somos pequenos no Universo. O homem precisa tomar consciência disso e parar de produzir injustiça.

Se eu fosse jovem, em vez de fazer Arquitetura, gostaria de estar na rua protestando contra este mundo de merda em que vivemos. Mas, se isso não é possível, limito-me a reclamar o mundo mais justo que desejamos, com os homens iguais, de mãos dadas, vivendo dignamente esta vida curta e sem perspectivas que o destino lhes impõe.

Sem ela -a intuição - não se faz nada. O ensino de hoje está roubando a intuição das crianças. Um garoto de 10 anos pode ser capaz de criar um painel fantástico. No entanto, ele é levado a lidar com esquemas prontos, a obedecer aos professores, a cair na rotina. No fundo, ninguém entende de Arquitetura, porque ela é subjetiva, tem mistérios e minúcias que não são dados a revelar.

Quando olho para trás vejo que não fiz concessões e que segui o bom caminho. Isso é que dá uma certa tranqüilidade.

Quando projetei a casa de Oswald de Andrade e a fachada, em um jogo de curvas e retas inovador, as diferenças de pé-direito a justificaram.

Quando uma forma cria beleza tem na beleza sua própria justificativa.

Quando a vida se degrada e a esperança sai do coração dos homens, só a revolução.

Quando alguém vai à Brasília, eu pergunto se viu o Congresso Nacional, e pergunto, depois, se gostou; se achou que o projeto era bom. Certo de que poderia ter gostado ou não, mas que nunca poderia dizer que tinha visto antes coisa parecida.

Praça dos Três Poderes: Eu não me preocupava com a opinião de ninguém eu não via livro de arquitetura. Preocupam-me as desigualdades sociais.

Os caminhões de operários vinham de toda parte do Brasil querendo colaborar, pensando que iam encontrar a terra da promissão, e estão lá nas cidades satélites, tão pobres quanto antes. Não basta fazer uma cidade moderna; é preciso mudar a sociedade. Isso é que é importante.

Palácio do Planalto: Eu queria, neste caso, fazer uma coisa nova, mais variada, com formas mais livres, criando ponto de vista diferente.

Patriota é quem defende o patrimônio nacional. É lutar pela Amazônia. Os americanos estão voando sobre nossas riquezas porque a Amazônia faz parte do plano deles. Até os militares no Brasil estão contra isso.

Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein.

O Bush, no fundo, é um idiota que tem as armas na mão, e delas se serve para levar o terror às áreas mais desprotegidas. Representa o Capitalismo, que, decadente, tudo faz para subsistir.

O homem tem de ser modesto; tem de olhar para o céu.

O importante não é sair da escola como profissional competente, mas estar consciente dos problemas da vida, desta miséria imensa que precisa ser eliminada.

O mais importante não é a Arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.

Camus diz em 'O Estrangeiro' que a razão é inimiga da imaginação. Às vezes, você tem de botar a razão de lado e fazer uma coisa bonita.

A Arquitetura não muda nada. Está sempre do lado dos mais ricos. O importante é acreditar que a vida pode ser melhor.

A Humanidade precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante.

A direita quer manter este clima de poder, de injustiça social e de subserviência ao império norte-americano.

A gente precisa sentir que a vida é importante, que é preciso haver fantasia para poder viver um pouco melhor.

A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.

A miséria existe. E a burguesia brasileira, que é das mais atrasadas, está sentindo isso na pele pela primeira vez. A chance de mudança está aí, nesta situação-limite. E há o inesperado, com o qual devemos contar. Um dia, lá em Paris, Sartre me disse que gostava de ter dinheiro no bolso para dar esmola. O sujeito chegava, Sartre dava um dinheirinho e quase agradecia por isso. Mudei minha opinião sobre a esmola. Como dizia o padre Teillard Chardin, quando ser for melhor que ter, estará tudo resolvido no mundo.

A vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo, ela será mais simples.

A vida é importante; a Arquitetura não é. Até é bom saber das coisas da cultura, da pintura, da arte. Mas não é essencial. Essencial é o bom comportamento do homem diante da vida.

A vida é mais importante do que a arquitetura.

A vida é um sopro. Por isso, não há motivo para tanto ódio.

Acho muito bom a pessoa se recolher e ficar pensando em si mesma, conversando com esse ser que tem dentro dela, que é nosso sósia, né? Eu converso com ele a vida inteira.

Acho que escola de samba deveria servir, às vezes, como veículo de protesto, para cantar os anseios da gente pobre. Afinal, os sambistas que descem do morro divertem a burguesia que bate palmas, acha fantástico, mas no dia seguinte tudo esquece.

Casa das Canoas: Minha preocupação foi projetar essa residência com inteira liberdade, adaptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em curvas, de forma a permitir que a vegetação nelas penetrasse, sem a separação ostensiva da linha reta.

Cem anos é uma bobagem. Depois dos 70 a gente começa a se despedir dos amigos. O que vale é a vida inteira, cada minuto também, e acho que passei bem por ela.

Como explicar que cruzar os braços é um problema e que a vida dura só um minuto?

Como o tempo tenta nos enfraquecer!

Compreendo a crítica de arte, muitas vezes justa e honesta, mas sou de opinião que o arquiteto deve conduzir seu trabalho de acordo com as próprias tendências e possibilidades, aceitando-a sem revolta ou submissão, sabendo-a não raro justa e construtiva, mas sempre sujeita a uma comprovação que somente o tempo pode estabelecer.

Conjunto da Pampulha: Era um protesto que eu levava como arquiteto, de cobrir a igreja da Pampulha de curvas, das curvas mais variadas, essa intenção de contestar a arquitetura retilínea que então predominava.

Costumo dizer aos estudantes de Arquitetura que não basta sair da escola para ser bom profissional. O sujeito tem de se abrir para o mundo e não ficar atrás da visão estreita dos especialistas.

De Pampulha a Brasília eu segui o mesmo caminho, preocupado com a forma nova, com a invenção arquitetural. Fazer um projeto que não representasse nada de novo, uma repetição do que já existia, não me interessa. E nesse sentido, até Brasília eu caminhei. Mas senti que tinha que explicar as coisas, às vezes não era compreendido, que havia mesmo uma tendência a contestar essa liberdade de formas que eu prometia.

Enfim, pude conviver com verdadeiros patriotas. Brizola, preocupado com a formação das crianças, levou adiante o projeto de Darcy de construir os CIEPs. Do ponto de vista da Arquitetura, os CIEPs não tinham importância. Do ponto de vista social, tinham. Hoje estão por aí, abandonados.

Enquanto existir miséria e opressão, ser comunista é a solução.

Espero que Brasília seja uma cidade de homens felizes: homens que sintam a vida em toda sua plenitude, em toda sua fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas simples e puras um gesto, uma palavra de afeto e solidariedade.

Estamos otimistas, o mundo está mudando, o império velho de Bush está desmoralizado. Acho que o mundo está melhorando. O Capitalismo está desmoralizado, e essa reação é natural.

Estou me lixando para o cliente.

Eu diria que sou um ser humano como outro qualquer, que vim. Deixo a minha pequena história que vai desaparecer como todas as outras.

Fiz o que quis. Juscelino Kubitschek nunca me disse para projetar cúpulas no Congresso, rampa no Planalto, parlatório - Até que ficou direitinho. Se não houvesse parlatório, os presidentes ficariam acenando para o povo de uma janela, como se fossem papas. Seria ridículo.

Gosto da idéia de uma catedral suspensa. Tenho de me preocupar em criar uma atmosfera serena para o crente falar com Deus.

Há o pessimismo que bate quando estou sozinho e penso no mundo. Mas se é para ir a uma festa em que há mulheres bonitas, o pessimismo desaparece. A vida está correndo. Tenho momentos de tristeza, de prazer, de saudade... Faz parte.

Lembro, com prazer, que desenhei as colunas do Palácio da Alvorada, e com prazer maior ainda as vi depois repetidas por toda parte. Era a surpresa arquitetural contrastando com a monotonia existente.

Lembro-me da noite em que Fidel esteve em meu escritório. Convidei amigos e, à meia-noite, quando ele ia embora, o elevador enguiçou. Para pegar o outro, ele teve de passar pelo apartamento de um vizinho, que até hoje conta essa ocorrência com certo orgulho. Dá para imaginar o susto do casal ao abrir a porta e dar de cara com o Fidel? O único comunista que mora nesse prédio sou eu. Mas, quando Fidel saiu, o edifício todo estava iluminado e o pessoal batendo palmas. Dizem que é preciso a noite para surgir o dia, e foi isso que aconteceu com Cuba.

Lógico que ainda acredito no Comunismo. Não sou cretino. É uma idéia que está no coração de todo mundo.

Mais importante do que a Arquitetura é estar ligado ao mundo. É ter solidariedade com os mais fracos, revoltar-se contra a injustiça, indignar-se contra a miséria. O resto é o inesperado; é ser levado pela vida.

Meu avô, que foi ministro do Supremo Tribunal, morreu sem um tostão. Inclusive a casa em que a gente morava estava hipotecada. Sempre tive a idéia de que o dinheiro não vale nada. Achei bonito ele morrer assim. Já disse que teria vergonha de ser um homem rico. Considero o dinheiro uma coisa sórdida.

Na rua, protestando, é que a gente transforma o País.

Nem os meus amigos, que me ajudaram muito, como o JK, entendiam. As pessoas viam os projetos e diziam: que bonito! Mas não estavam entendendo nada.

No dia em que o mundo for mais justo, a vida será mais simples.

Nossa passagem pela vida é rápida. Cada um vem, conta sua história, vai embora e depois ela será apagada para sempre. A vida continua.

Nunca acreditei na vida eterna. Sempre vi a pessoa humana frágil e desprotegida nesse caminho inevitável para a morte... Às vezes, muito jovem, o espiritismo me atraía, logo dissolvido pelo materialismo dialético, irrecusável. Se via uma pessoa morta, meu pensamento era radical. Desaparecera, como disse Lacan, antes de morrer. Um corpo frio a se decompor, e nada mais.

Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os mais compreensíveis que me convocam como arquiteto sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu penso a mesma coisa deles. Não permito que ideologia nenhuma interfira em minhas amizades.

Não acredito em momento de glória: somos insignificantes demais para pensar nessas coisas.

Não acredito em uma Arquitetura ideal, insubstituível; somente em boa e má arquitetura. Gosto de Le Corbusier como gosto de Mies, de Picasso como de Matisse, de Machado como de Eça

Não existe Arquitetura bonita ou feia. Existe Arquitetura boa e ruim.

Não é maravilhoso uma pessoa grandiosa como ele?